Se atualmente mais de 50% da população mundial vive em centros urbanos, em meados do século esse contingente terá dobrado de tamanho, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas. Os impactos ambientais, sociais e econômicos desse cenário têm gerado intensas reflexões em diferentes campos e disciplinas, trazendo os processos de urbanização para o centro do debate.
É neste contexto que o 27º Congresso Mundial de Arquitetos reunirá profissionais do setor no Rio de Janeiro, em julho de 2021. O evento aconteceria este ano e foi adiado por conta da pandemia de coronavírus, mas a programação será mantida. O eixo dos debates está estruturado em torno do tema “Todos os Mundos, Um só Mundo, Arquitetura 21”, remetendo à ideia da diversidade humana em uma só morada. E como a arquitetura pode responder satisfatoriamente a esse desafio?
Para Adriana Levisky, sócia titular do escritório LEVISKY Arquitetos|Estratégia Urbana, “olhar para a diversidade social, econômica e cultural da população mundial é missão estrutural estratégica e política do profissional da arquitetura e urbanismo”.
“Atuar de forma ética e responsável em prol dos desafios expressivos e complexos apontados pela realidade mundial não é missão trivial, vivenciamos cada vez mais as mudanças comportamentais, as transformações decorrentes da inovação tecnológica, bem como os debates sobre questões éticas e necessidades humanas presentes neste mundo, ao mesmo tempo, interconectado e desconectado”, avalia a arquiteta urbanista.
“A arquitetura do século 21, portanto, deve voltar-se fortemente à temática do viver de forma sustentável, sobretudo nos centros urbanos, enfrentando aspectos relacionados ao envelhecimento da população e à inclusão social.”
MORADA SUSTENTÁVEL
Quando questionada se a arquitetura poderá prescindir dos pilares sustentáveis, atuando em conflito com as necessidades ambientais, Adriana Levisky não dá margem a objeções: “Naturalmente, não há como considerar a arquitetura e o urbanismo atuando de forma desatenta e desvinculada da sustentabilidade. A produção arquitetônica e urbana do século 21 está necessariamente relacionada às questões sociais, ambientais, econômicas e culturais que urgem por um tratamento sinérgico e holístico, que pode ser beneficiado por avanços consistentes no uso ético e inclusivo do conhecimento e de novas tecnologias”, declara.
“Apesar de parecer um caminho óbvio no processo da elaboração e implantação de soluções para os desafios relacionados à qualidade de vida nas cidades, as estruturas sociais e políticas no âmbito mundial, em sua maioria, não se apresentam suficientemente maduras para a necessária implementação de ações conjugadas – ações estas que se traduzam em respostas efetivas para as questões urbanas que, por sua vez, estão frequentemente relacionadas à atuação concatenada de diversas áreas do conhecimento no contexto das organizações”, continua. “As palavras-chaves da contemporaneidade são diversidade, mediação e pactuação. A contemporaneidade demanda um posicionamento profissional, social e existencial pautado nestas três palavrinhas. Sem elas, dificilmente iremos avançar neste mundo tão populoso, complexo e paradoxal”, elabora a arquiteta urbanista, com maestria.
“Temos em nosso escritório alguns trabalhos realizados e projetos elaborados que envolvem interlocuções entre as esferas pública e privada. São experiências que apontam caminhos possíveis a serem trilhados, todos com as suas respectivas oportunidades e os desafios inerentes à qualificação e requalificação dos espaços urbanos. Neste contexto, é importante considerar que modelagens público-privadas tais como concessões, Parcerias Público-Privadas, Acordos e Termos de Cooperação são modelos jurídicos extremamente atuais, usualmente aplicados em contratos de infraestruturas, estradas, aeroportos, portos, mas ainda pouco dedicados às questões urbanas”, aponta.
EXPECTATIVAS COM O UIA
Quisemos saber de Adriana Levisky quais suas expectativas em relação aos resultados que o 27º Congresso Mundial de Arquitetos poderá trazer para o debate nacional. Para ela, “a oportunidade de intercambiar a enorme diversidade de experiências, realidades e prioridades ao redor do mundo será de grande valia para o debate da arquitetura e do urbanismo no Brasil e internacionalmente”.
“Em um mundo praticamente sem fronteiras, do ponto de vista do trânsito da informação, passa-se a constatar com muita rapidez e facilidade as dificuldades e desafios comuns que se multiplicam ao redor do planeta”, afirma. “As soluções para o enfrentamento de tais questões – sofrendo interferências econômicas, políticas e sociais específicas de cada país – resultam em uma diversidade de cenários, entre soluções bem sucedidas e retrocessos. A confrontação de tais realidades, associadas a um compromisso, no mínimo, técnico e ético do profissional de arquitetura e urbanismo, poderá qualificar sua atuação. Também poderá qualificar as políticas de estado, o ensino e a capacitação do arquiteto urbanista, a regulamentação das práticas profissionais e, por fim, resultar em contribuições efetivamente mais e mais qualificadas, tanto em prol da qualidade de vida das pessoas, como do ambiente ao redor do mundo”, conclui.
27º CONGRESSO MUNDIAL DE ARQUITETOS
Na programação do 27º Congresso Mundial de Arquitetos está uma palestra de Adriana Levisky com foco em trabalhos realizados por seu escritório, como o Boulevard da Diversidade, a Requalificação da avenida 9 de Julho, a Praça Victor Civita – Museu Aberto da Sustentabilidade, o Senac São Miguel Paulista e o Plano Diretor do Hospital Albert Einstein, entre outros. “São projetos institucionais com capacidade de impulsionar o desenvolvimento local de diversas regiões em seu contexto urbano envolvendo comunidade, esferas públicas e privadas.”
Saiba mais em: https://www.uia2020rio.archi/
Fonte: GlassescViracon
Adriana Levisky
Sócia diretora da Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana
Autora do projeto da Praça Victor Civita – Museu Aberto da Sustentabilidade