Inteligência Artificial no Urbanismo: Uma revolução silenciosa e concreta

Como pessoa, mãe, cidadã e profissional na área da arquitetura e urbanismo, percebo a crescente revolução da Inteligência Artificial (IA) no moldar das nossas relações humanas, das profissões em geral, considerando aquelas que irão morrer e outras tantas que surgirão, dos padrões de comunicação, da ética, da percepção e sentido de realidade e perenidade das coisas, sobretudo aquelas tidas como físicas e materiais. E, neste amplo movimento, percebo também a relevante influencia da Inteligência Artificial na construção, monitoramento e gestão das nossas cidades.

Essa tecnologia, que lá longe pertencia apenas ao reino da ficção científica, agora é uma realidade palpável e de consolidada dependência. Ela vem trazendo possibilidades relevantes para os desafios urbanos contemporâneos, tornando-se uma ferramenta indispensável no suporte ao planejamento e na gestão das cidades, na busca de soluções mais ágeis, acessíveis, transparentes e eficientes.

É importante no entanto, distinguir o uso da IA voltada à coleta de dados, simulação de cenários e automação, daquela que, para além disto, assume papel do tomador de decisões, do definidor de “melhores estratégias” e “soluções assertivas” para um determinado lugar.

Este paradigma emergente está remodelando o futuro dos espaços de maneira nunca antes imaginada. E coloca em discussão o lugar do urbanista, frente a esta situação, trazendo a principal pergunta: qual a importância e o papel do arquiteto e do urbanista a partir da IA? Qual o diferencial entre a IA e a inteligência urbanística?

Transformações concretas em cidades pioneiras

Em lugares inovadores como Singapura, Curitiba e Sydney, a IA já se tornou uma força central no planejamento urbano. Em Singapura, essa ferramenta é empregada em uma variedade de funções, desde otimizar a distribuição de energia até a gestão de águas pluviais, refletindo um profundo compromisso com a sustentabilidade. Não é preciso ir tão longe, em Curitiba é fundamental na gestão de transporte público, melhorando a eficiência e reduzindo a pegada de carbono. Sydney, explorando o potencial da IA na gestão de tráfego e segurança pública, demonstra como a tecnologia pode melhorar significativamente a segurança e eficiência urbana.

Cidade de Singapura

A IA como instrumento de mudança

A IA também vem se transformando em um instrumento crucial para o monitoramento dinâmico das cidades, tornando-as verdadeiros laboratórios vivos de inovação. Por exemplo, em Los Angeles e em Barcelona, sistemas baseados em inteligência artificial estão sendo usados para analisar e otimizar o fluxo de trânsito. Estes mecanismos não só reduzem os congestionamentos, mas ainda aumentam a segurança nas estradas, identificando padrões de acidentes e propondo alterações eficazes.

Fluxo de trânsito

No âmbito da sustentabilidade, locais como Amsterdã estão adotando essa ferramenta para criar redes energéticas mais eficientes e verdes. A IA auxilia na harmonização entre demanda e oferta de energia, integrando fontes renováveis e otimizando o consumo, o que não só torna as cidades mais sustentáveis, mas também mais adaptáveis a variações e interrupções no fornecimento de energia.

Além disso é uma ferramenta valiosa na tratativa de importantes desafios urbanos, como a radiografia dinâmica das desigualdades sociais e seus padrões de ocupação e de consumo nas cidades, por exemplo. Através da análise profunda de dados, pode-se entender como diferentes grupos vem caracterizando padrões de comportamento, que levam a elencar tendencias, provisões e fundamentalmente calibrar políticas urbanas e ações estratégicas pertinentes.

Forjando o futuro urbano com a IA

Como pudemos observar, a inteligência artificial está se estabelecendo como um componente fundamental na evolução das cidades. Como urbanistas, enfrentamos a responsabilidade e a oportunidade de utilizar essa tecnologia para criar ambientes urbanos mais inteligentes, sustentáveis e acolhedores. Para isto, buscando resposta para a pergunta apresentada, caberá cada vez mais ao arquiteto urbanista a assertividade de fazer as perguntas certas e focalizar em sua capacidade diagnostica e mediadora a partir da enormidade de dados cruzados que com extrema diversidade e velocidade a IA é capaz de participar. O lugar da inteligência urbanística para abordar os complexos desafios urbanos do século XXI contando com a presença da IA está na sua capacidade de elaborar perguntas, de capturar dados interdisciplinares, de diagnosticar de forma holística e integradora as situações, de considerar as lições aprendidas e ter a capacidade de discernimento ao detectar similaridades e especificidades aplicáveis a diversas situações, de focar na gestão continua e complexa das coisas, Enfim, de lidar essencialmente com o fator TEMPO aplicado às PESSOAS.

 


Adriana Levisky
Arquiteta Titular da Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana