As metrópoles, as cidades e os grandes conglomerados urbanos, em âmbito mundial, buscam cada vez mais por soluções para garantir a qualidade de vida em seus territórios.
É certo que o termo “qualidade de vida” pode ser entendido sob diversas óticas: envolve aspectos subjetivos e imateriais do universo múltiplo de valores pertencentes a cada cultura e seus respectivos aspectos sociais, jurídico-legais e econômicos. Mesmo assim, os problemas que assombram cidades mundiais são similares e recorrentes. Disparidades sociais, choques comportamentais e culturais, alto custo de vida, aumento da população urbana, crescimentos da favelização e da mendicância, entre outras questões complexas, multiplicam-se com velocidade superior à capacidade gerencial de governabilidade.
Metrópoles contemporâneas são polos atrativos, concentram oportunidades e desafios na mesma medida. Tal realidade exige ampliar a conscientização sobre a importância de um bom planejamento e gestão das infraestruturas urbanas. Carências nas infraestruturas urbanas geram fragilidades. Já a ausência de reconhecimento do valor do projeto arquitetônico e urbanístico – instrumento estratégico para o planejamento e a gestão sistemática da infraestrutura – gera descontinuidade nas ações estruturais do Estado, fragilidade e falta de confiança na relação entre as esferas públicas e privadas.
No Brasil, vivemos um momento crucial ao necessário processo do amadurecimento de relações qualificadas entre o setor privado, a sociedade e o setor público em prol da qualidade de vida nas cidades. Superar deficiências e consolidar ações propositivas nesse sentido seria um presente extraordinário para São Paulo em seu 464º aniversário. Construir modelos de interlocução público-privada com segurança jurídica, longevidade nas ações, solidez, transparência e ampliação de oportunidades junto a um grande espectro do setor produtivo, com aderência por parte da população às ações propostas, é possível e desejável.
Cabe ao setor produtivo e ao Poder Público investir dedicação e proatividade para garantir a qualificada participação das inteligências empresarial, industrial, técnica, tecnológica, acadêmica, a favor de modelagens consistentes dos pontos de vista jurídico-legal, econômico e urbanístico. Esta última, a modelagem urbanística, em um primeiro momento pode parecer a mais abstrata, mas é justamente o oposto: permite materializar a oportunidade de construir espaços e relações qualificadas. Para que se faça presente e efetivo, é fundamental que o planejamento territorial, assim como o desenho do espaço urbano e o arcabouço legal urbanístico – que compreende as disciplinas de parcelamento, uso e ocupação do solo –, seja tratado de maneira equilibrada e consistente.
Um bom projeto urbano pode gerar oportunidades de trabalho e emprego, oferecer moradias, bem como opções em lazer, convivência, entretenimento, esporte e cultura. O usufruto de tal materialidade contribuirá para a qualificação nas relações humanas e o fortalecimento do senso de cidadania. Com base nestes, ficam fortalecidas as condições de pertencimento, zeladoria e segurança, aspectos essenciais para a qualidade de vida nas cidades. A devida atenção aos aspectos técnicos, legais, sociais, ambientais, econômicos e culturais envolvidos em oportunidades de intervenções urbanísticas pode garantir a realização de projetos duradouros e representativos da sociedade na qual se inserem.
*Adriana Blay Levisky é presidente do Conselho de Desenvolvimento Local da FecomercioSP
Fonte: Fecomercio
Adriana Levisky
Sócia diretora da Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana
Autora do projeto da Praça Victor Civita – Museu Aberto da Sustentabilidade